(gentileza de Amélia Pais) Eis-me na tua companhia. Diálogo deslumbrante. Ó oceano! escuta bem este meu canto! Nós somos dois a misturar os nossos ritmos harmoniosos. Na vastidão desértica da vida árida Só tu és meu amigo. Bastou-me contemplar tua beleza E logo minha alma triste se alegrou. E mais do que a presença d'amigos dilectos Tua presença a solidão preenche nos meus pensamentos. Tu existes, sim, tu existes, e tal não é suficiente Para desvanecer, da minha vida, a angústia? Dize-me, há em ti remédio para as minha feridas? É em ti que reside a liberdade fora do obscuro? Ou, por outra, será que tu e eu estamos ambos ligados À fatal alternância do dia e da noite? Hoje, ficarei junto de ti até anoitecer. Eis que te trago a minha esperança, peço-te protecção. Eu canto o grande movimento da tua música, o espectáculo Eterno d'altas vagas que se quebram e, muito ao longe, o teu eco legião. Da beleza tu foste, para nós, o receptáculo. Desde então, Sem cessar, proclamamos o teu nome. Tu és eternamente o mistério genitor D'orgulho e da grandeza. Harpa de majestade, ó esplendor que explodes, Meu canto esgota-se ao contacto dos teus sons! Fonte viva de água vívida, onde a inspiração vem beber os versos, Fonte fecunda e fixa além d'imensidão, Tu repousas em paz, quando o vento amaina a sua rápida loucura, Ou abrasada em fogo, a falar em chamas, Tu não temes o vento, quando ele ribomba Como um trovão por sobre a tua espuma, Quando as nuvens são almofadas pretas a tapar o horizonte E quando a noite circunscreve a matéria viva à sua face. Mas, onda após onda, cais enamorado das raparigas Belas, nuas, de seios rutilantes como estrelas cadentes No azulíssimo cerúleo da tua água salgada. Com a tua beleza se enfeitam e paramentam os seios. Sobre ti, se debruçam, espelho mágico, Onde cintila, em colares infinitos, o mar dos seixos rolados. Abdel Karim Akkum (Versão de Muhammad Abdur Rashid Barahona)