Soneto de orbe e de infinito
Agora faço a viagem, que raios itinerantes, qual espírito,
Desentranham o sonho da matéria, enchem os espaços
De onde o dia se põe aceso e solta os pássaros,
Invadem a sala, mobiliam a casa de luz e de infinito.
Os pássaros itinerantes aliam-se aos ventos e aos rochedos
E, nessa viagem, de corpo inteiro, cada dia seu coletam.
Acordo então e ponho-me a pensar nesses segredos,
Em todos esses obstáculos de ave que em nós se hospedam.
E a buscar respostas nessas rarefeitas estâncias,
Do pêlo um desejo urgente cresce e me revista;
Na boca a fala em dentes se recama no revôo
De palavras secas e esquisitas, qual energia
Que cai nos poros e, liberta, como aves, se inicia
Na colheita da vida que nos cerca e nos irradia.
Marcelino Botelho
Publicado em 5 de Junho de 2008