É noite nos meus olhos. E nos teus ainda se sente a água? Cego vou para teus braços e não sei quem és. De amor por ti nunca direi ou se já cai a flor da amendoeira. Nos mares do rio a que me deito navega o barco dos fantasmas, eu por eles quis crianças e os outros corpos todos. Nos meus olhos é a clara noite, a água sobe, amarras esticam e protegem. Teus olhos dizem que estou a chegar e não se importam do que vou querer, do que te falo. Afasto os arbustos, vou em pressa, prepara-me o gesto de receber, abre o teu vestido, a boca sobre os pulsos já a sinto. É a noite toda nos meus olhos, silvados que quebrei, domínios por onde venci a infiel maneira de existir. Assim ergues a pequena verdade, de amor por ti nunca direi como te quero. Helder Moura Pereira