A água do rio é doce. Carece de sal, carece de onda. A água do rio carece da vândala violência do mar. A água do rio é mansa sem a ameaça constante das vagas sem a baba de espumas brabas. A água do rio é mansa mas também se zanga . Tem banzeiro, enchente correnteza e repiquete. Pressa de corredeira sobressalto de cachoeira traição de redemoinho. A água do rio é mansa corre em leito estreito.. Mas também transborda e inunda também é vasta, também é funda também arrasta, também mata. Afoga quem não sabe nadar. Enrola quem não sabe remar. A água do rio é doce mas também sabe lutar. A água doce na pororoca enfrenta e afronta o mar. Filha de olho d'água e de chuva neta de neve e de nuvem a água doce é pura mas também se mistura. Tem água cor de café tem água cor de cajá tem água cor de garapa tem água que nem guaraná. A água doce do rio não tem baleia nem tubarão tem jacaré, candirú, piranha puraquê e não sei mais o quê. A água doce não é tão doce. Antes fosse. Astrid Cabral