O verbo nunca esteve no início dos grandes acontecimentos. No início estamos nós, sujeitos sem predicados, tímidos, embaraçados, às voltas com mil pequenos problemas de delicadezas, de tentativas e recuos, neste jogo que se improvisa à sombra do bem e do mal. No início estão as reticências, este-querer-não-querendo, os meios-tons, a meia-luz, os interditos e as grandes hesitações que se iluminam e se apagam de repente. No início não há memória nem sentença, apenas um jeito do coração enunciar que uma flor vai-se abrindo como um dia de festa, ou de verão. No início ou no fim (tudo é finício) a gente se lembra de que está mesmo com Deus à espera de um grande acontecimento, mas nunca se dá conta de que é preciso ir roendo, roendo, roendo um osso duro de roer. Gilberto Mendonça Teles