O namoro durava o que dura um Verão, tanto e tão pouco, quase nada. Era um sopro, uma embriaguez, um êxtase, com o mar ao fundo a trazer para o areal algas e conchas, restos de comida, garrafas vazias, objectos náufragos, nomes de sereias. O Verão, às vezes, durava uma vida. Outras vezes durava uma noite. Havia uma canção que marcava a cadência da paixão volátil: Smoke Gets in Your Eyes. Como seria ridículo dizer isto em português. Depois havia as cartas e os retratos com dedicatórias lembrando aquele Agosto, aquele passeio de barco, aquela madrugada no Palm Beach ao som de Yesterday. Era tão veloz esse tempo que parecíamos envelhecer uma vida em cada semana. Se morria um amigo, era como se morresse para sempre a magia do Verão. E nunca mais houve amores como esses, primordiais e inocentes. Totais. Voltar a eles é tão impossível como voltar ao aconchego do ventre materno. O namoro durava apenas um Verão, mas é sempre a ele que voltamos quando a palavra amor nos queima os lábios. José Jorge Letria