Aqui estou, no encontro dos caminhos no sítio onde os olhares se dobram de terror... Quando a minha voz disse não e a vontade e o espelho havia acordo e sonho e flores para abrir. Quando as minhas mãos escorriam de ternura havia liberdade e os meus pés descalços recortavam em sombra a única lisura. Que lindo o que eu sonhei, que paz e que mistério que grande força sem lágrimas no mar. . . Agora estou dorida, morreram-me os cabelos nos dedos que pediam caiu uma agonia, as cordas já cortadas tornaram a me ligar. Na noite que me seque eu quisera sorver toda a ausência direta do possuir e do ter, fugida na floresta escondida na giesta morder aquela terra fecunda em que me sei. Sem luta, a navegar, um barco branco e meu sem timoneiro nem rota marcando-me o destino singrando sob a lua, bebendo o sol dos dias tão só e o grande olhar de Deus, deitado ao pé de mim. Assim correr, ser livre, criar e ter prazer aquele só prazer igual ao que já sou uma lira, um canto, uma harmonia enfim serena, bela, doce e sem violência louca. Idade duma rosa colhida na manhã vibrando no calor as pétalas a abrir surpresa vegetal da vida que se inflama com o caule cortado e sem poder sorrir. Quem livre me deixasse dormir na minha planta este acordo supremo dos membros do amor, sem traição, sem corte, e só aquele manso sorver da terra a seiva para poder florir. Ai, mar em que me banho e que livre me deixas miragem do meu ritmo, partida para além meu doce só saber braços, pernas, seios, beijos, e toda a maravilha de ser sem mais ninguém. Salette Tavares