Amaldiçoado em lágrimas rasgo olhos ao horizonte poente inutilizo a noite na chegada em refúgio (os cães ladram) rememoro a hora da notícia transmitida palavra por palavra revejo minha imagem cristalizada no congelamento da lágrima depositada (os cães farejam) as dores se afastam no distanciamento necessário ao medo o corpo estremece ao se pertencer em dores no horizonte hostil da janela aberta o futuro se depara com a impertinência do presente (os cães comem) afasto suas mãos das minhas: o contato é lucidez inoportuna na desesperança a oração despercebida rompe o silêncio e se perpetua afago o deslizar da hora em horas subsequentes (os cães se defendem) murmuro o nada acontecido e desacordo em sonhos o retorno convive com o fato desproporcionado revivo o outono em folhas pelo chão recupero a sanidade e me faço cristal de rocha esfacelado (os cães se diferenciam) sofro o instante e gesto o silêncio o emudecer transmite a incerteza da pergunta na vastidão ampliada da insensibilidade (os cães desfazem) posso perguntar o que bem entendo: mas não entendo posso exprimir a minha raiva: mas não pretendo posso aproximar os olhos à fotografia: mas não enxergo (os cães confundem) calendários dizem que os anos passam o exercício diuturno de recuperar o inconsciente e o aguardar refulgente: recomposto o exército lancinante dos ataques distribuí ossos que estalam (os cães apavoram) um dia destaco na pedra o sinal: acordo um dia acordo e na pedra destaco o sinal um sinal na pedra é destaque quando acordo (os cães se acovardam) olho e enxergo ouço e escuto pego e sinto levo à boca e o sal amarga o recesso de onde retirado avaros dias de permanências permanentes signos aparentes esboços o processo desarruma o fato em procedimentos (os cães arfam) ouvidas as testemunhas os peritos dizem das especialidades nada nada a improvável condenação confundida em versos na reversão da realidade (os cães obedecem) choro atravessar o espaço desconsolado em fatuidades remoço a fotografia e me instalo diante da orfandade perder significa atos ao despropósito de continuar vivo (os cães silenciam). Pedro Du Bois