Onde ficava o mundo? Só pinhais, matos, charnecas e milho para a fome dos olhos. Para lá da serra, o azul de outra serra e outra serra ainda. E o mar? E a cidade? E os rios? Caminhos de pedra, sulcados, curtos e estreitos, onde chiam carros de bois e há poças de chuva. Onde ficava o mundo? Nem a alma sabia julgar. Mas vieram engenheiros e máquinas estranhas. Em cada dia o povo abraçava outro povo. E hoje a terra é livre e fácil como o céu das aves: a estrada branca e menina é uma serpente ondulada e dela nasce a sede da fuga como as águas dum rio. Fernando Namora