E corre, e corre a existência, E cada dia que cai Nos abismos do passado É um sonho que se esvai, Um almejo de noss'alma, Anelo de felicidade Que em suas mãos espedaça A cruel realidade; Mais um riso que nos lábios Para sempre vai murchar, Mais uma lágrima ardente Que as faces nos vem sulcar; Um reflexo de esperança No seio d'alma apagado, Uma fibra que se rompe No coração ulcerado. Pouco e pouco as ilusões Do seio nos vão fugindo, Como folhas ressequidas, Que vão d'árvore caindo; E nua fica nossa alma Onde a esp'rança se extinguiu, Como tronco sem folhagem Que o frio inverno despiu. Mas como o tronco remoça E torna ao que d'antes era, Vestindo folhagem nova Co volver da primavera, Assim na mente nos pousa Novo enxame de ilusões, De novo o porvir se arreia De mil douradas visões. A cismar com o futuro A alma de sonhar não cansa, E de sonhos se alimenta, Bafejada da esperança. Bernardo Guimarães