(gentileza de Amélia Pais) Em Agosto havia tempo e vagar. Obras paradas, cães sem coleira e um vizinho sentado à janela entre cortinas de mofo. Hang on sleepy town. Tudo adiado. Sobrávamos nós, os conspiradores, murados no terraço pela sombra das montanhas; sobravam também, toda a tarde, as luzidias ilhas de vinil em rotação – e enquanto o espinho de diamante as percorria, víamos por vezes acender-se na penumbra a cidade de onde nos tinham degredado desde sempre e para sempre, tão forte era o apelo da estranha língua nativa: ruas sem retorno, negras escadarias, túneis que levavam, madrugada dentro, aos enredos do futuro – por favor, por favor, que tudo comece. Num silêncio sem paz nem sossego ficávamos depois abandonados. E esses foram, já se sabe, os melhores dias. Rui Pires Cabral