Está o lascivo e doce passarinho Com o biquinho as penas ordenando; O verso sem medidas, alegre e brando, Expedindo no rústico raminho. O cruel caçador, que do caminho Se vem calado e manso desviando, Na pronta vista a seta endireitando, Lhe dá no estígio lago eterno ninho. Desta arte o coração, que livre andava (Posto que já de longe destinado), Onde menos temia, foi ferido. Porque o Frecheiro cego me esperava, Para que me tomasse descuidado, Em vossos claros olhos escondido. Luís de Camões