Soneto bucólico
Está o lascivo e doce passarinho
Com o biquinho as penas ordenando;
O verso sem medidas, alegre e brando,
Expedindo no rústico raminho.
O cruel caçador, que do caminho
Se vem calado e manso desviando,
Na pronta vista a seta endireitando,
Lhe dá no estígio lago eterno ninho.
Desta arte o coração, que livre andava
(Posto que já de longe destinado),
Onde menos temia, foi ferido.
Porque o Frecheiro cego me esperava,
Para que me tomasse descuidado,
Em vossos claros olhos escondido.
Luís de Camões
Publicado em 5 de Agosto de 2010