Nunca te surpreendeu o sorriso estático das imagens antigas? Alguma coisa aqui tivemos de perder. Percorro dias e corpos na memória, mas o que procuro mais é não te ver. Quem ama quem? As máscaras trocaram-se e a tua voz ressoa neste palco. Trouxe versos e música para te dar, mas o rosto que tivemos já partiu; fiquei eu só, à beira da memória, água do mar que não serve para beber. Porque esta foi a paixão, o grande acto, a tímida paixão de asas de chumbo. Eu vi-te muitas vezes frente ao mar, mas quem de nós para acender a cinza? - ronda-nos a ave de presa despojada sobre os malefícios. Aliás, coisas passadas. Não te surpreendeu? O amor surpreende - não convém, desarruma. E nunca se ama ao certo quem se ama. Procuramos apenas um brilho, um brilho muito intenso no olhar, um brilho que não vamos definir e que algum dia iremos renegar. Luis Filipe Castro Mendes