Declaro que
Tudo em ti é citação
de talentosos autores
de rematados estupores
de gente vulgar
- e dos teus amores.
Podias ter o nome de um mosaico
de um Puzzle de cinco mil
de uma faixa em vinil
- ou de um mapa antigo
Podias ter o nome do inventor
da gravura de um campo de batalha
Farias pincéis
farias punhais
e serias um actor inspirado
- nesse palco.
Podias ter ainda
um dos nomes de Rainer Maria Rilke
cuja obra ainda não leste.
Cujo nome tão bem
- e com tanto cuidado
- decoraste.
Podias ser o assobio
a estrofe
ou o refrão -e o romper inesperado de um solo desmedido
na voz rouca
e cheia de arestas
do Bob Dylan.
Podias ser Tom Waits a comandar um assalto à casa dos licores
- com um jarro de sangria em cada mão.
Poderias figurar também por inerência - se quisesses
no coro dos bem intencionados rapazes
da Santo Amaro dos escritores
dos poetas
dos Bocages
que sempre pisaste.
Se pudesses escolher serias
Cavaleiro aguerrido
num livro de Milo Manara
com a participação do Corto Maltese
- e belas nádegas.
Terias que ser ainda (é verdade)
Coluna do Record devorada às escondidas
E a página cento e tal do Sexus e Henry Miller
Nas casas de banho da tua idade
madura
Gostarias de ser um dia
(para não envergonhar tão orgulhoso arquivo)
capa de jornal esgotada
em 15ª edição
por motivos nobres.
E é assim que tudo em ti
é citação.
De talentosos autores.
De rematados estupores.
De gente vulgar…
… e dos teus amores.
Que não se te acabe
- o pavio.
Rui A.
Publicado em 3 de Abril de 2012