Alegra-me ser todas as coisas e as sombras que elas projectam ser a sombra dos teus seios e da tua boca o criado de smoking branco que te agita os cabelos para um cocktail estimulante e fresco a mesa onde passo a ferro o teu corpo as espáduas as coxas a curva macia dos joelhos alegra-me ser o contorno da tua nuca e o binário motor dos teus braços embora mais pequeno do que um corpúsculo celeste sou os milhões de astros microrganismos estrelas a rota de todos os navios perdidos a angústia síntese de todos os suicidas a forma de todos os animais conhecidos o desenho rigoroso de toda a flora existente Ontem em Paris hoje em Lisboa amanhã em Júpiter caminho para a resolução de todos os problemas sem a certeza de resolver qualquer deles como se fosse uma máquina de somar parcelas quatro vezes quatro oito vezes dez oitenta sabe-me a vida ao que É esta progressão assustadora de crocodilos bebendo limonada Ontem fui a prostituta a quem paguei a noite hoje serei talvez o inocente violentador frustrado Sutmil é a cidade para onde me evado todas as noites à aventura e «os anéis de Saturno são a força centrífuga-centrípeta que me agita os braços no espasmo amoroso» a cabeça em Marte os pés na Terra vindo «lá do fundo do horizonte lívido» O comboio está na gare o comboio vai partir apressemos o passo o momento é solene somos o automóvel que sobe a avenida a pulsação acelerada dos maquinismos taxímetro de uma cidade de província satélites de um satélite lunar Tu és o aeroporto eu o avião que parte e muito mais calmos entre éter e fogo percorremos os sonhos de planeta em planeta desfolhando o futuro a flor sempre rara e marcamos nos astros o nosso roteiro DEZ QUILÓMETROS amanhã tirarei o curso de sonhador espacializado Pedro Oom