Tu choravas e eu ia apagando com os meus beijos os rastos das tuas lágrimas ─riscos na areia mole e quente do teu rosto. Choravas como quem se procura. E eu descobria mundos, inventava nomes, enquanto ia espremendo com as mãos o meu sangue todo no teu sangue. Não sei se o mundo existia e nós existíamos realmente. Sei que tudo estava suspenso, esperando não sei que grave acontecimento, e que milhares de insectos paravam e zumbiam nos meus sentidos. Só a minha boca era uma abelha inquieta percorrendo e picando o teu corpo de beijos. Depois só dei pela manhã, a manhã atrevida entrando devagar, muito devagar e acordando-me. Desviei os meus olhos para ti : ao longo do teu corpo morriam as estrelas. A noite partira. E, lentamente, o sol rompeu no céu da tua boca. Albano Martins