já sei que dirás que ficaste sozinho em casa
que sozinho na tua casa pensaste mal
da noite de são bartolomeu
que assentaste sozinho os pensamentos no papel
que aliás nem tinhas nascido nesse século
que pensaste mal da noite de são bartolomeu
assim por nascer como te encontravas

quem eras tu nessa noite de são bartolomeu
e porque não entraram na tua casa
afinal seria tão fácil
tinhas o cérebro no tabuleiro branco de papel
operava-lo com uma pena de ganso
um movimento errado e estarias morto
com um só movimento ao lado da pena
sobre o tabuleiro branco de papel onde estava o teu cérebro

porque não fizeste o movimento errado
porque não entraram na tua casa e porque não te mataram
na noite de são bartolomeu
quem poderá confirmar que não mentes
que não eras um dos homicidas
tens algum alibi?
não tens nenhum alibi

ninguém daqueles que pensam sozinhos à noite
tem algum alibi se entretanto já tiver passado
a noite de são bartolomeu

devias ter escolhido outra noite
para colocares o cérebro no papel
como se colocar o cérebro no papel
pudesse ser adiado
como se o adiar não levasse ao mesmo resultado
tal como o movimento errado da tua caneta

escolhe outra noite que não a de são bartolomeu
não tens nenhum alibi já não estava ninguém
entre as paredes do teu quarto para testemunhar
e em ti não acreditamos

o que fizeste na noite de são bartolomeu
porque não eras nascido na noite de são bartolomeu
os teus pensamentos contra a noite de são bartolomeu
não bastam

quanto durou a noite de são bartolomeu
quanto durará
sozinho na noite de são bartolomeu não podes ficar
no papel as pegadas da noite são inconclusivas

para entender os limites da noite de são bartolomeu
não basta
estares sozinho outra vez não basta
devias ter chamado mais alguém
ainda antes de teres nascido

não acreditamos em ti acerca da noite de são bartolomeu

Nicolae Prelipceanu, trad. Corneliu Popa