Seja como seja,
ponderadas azias, esgotamentos e algum desejo que surja,
(a fintar marés):
a primeira frase é da maior importância e impacto.
O peso é quase mortal e pode marcar a diferença, a haver,
entre escrever coisa nenhuma
e escrever sobre o nada que por vezes acontece
(sendo discutível que apreciações vitais tenham lugar antes do prólogo, a epistemologia tem
limites, e de momento cai bem responsabilizar a ciência).
É certo que os teus olhos são a última maravilha, a iniciação ao mundo.
É certo que o teu corpo me sobeja e satisfaz, a ser o teu.
É certo que numa pessoa sem abrigo pode haver mais poesia
que num amante de cães, dietas ou pastéis.
Evidentemente, a revolução tarda e é difícil
(e podia tentar falar sobre isso com alguma pertinência).
Claro que eu queria escrever coisas verdes, em tons de Arlindo Barbeitos.
Com talento, mesmo que fosse mentira.
Mas,
no meu bairro,
ninguém escreve como eu.
Rui A.
No meu bairro ninguém escreve como eu
Publicado em 22 de Julho de 2020