Continuando A desistência não me fica bem, é certo. Às vezes provo-a à frente do espelho dos meus dias, mas não me cai: há qualquer coisa no tom, na falta de brilho, no ar lúgubre, que me faz despi-la e rejeitá-la quase liminarmente. Mas a resistência tem que ser com sentido, para não se metamorfosear (tenho um amigo que gosta desta palavra e me dá um trabalho insano a pronunciar o verbo conjugado) em teimosia vã, sem qualquer ligação com as possibilidades que a realidade encerra. Não adianta persistir de modo autista e bronco, insistente, como se o voluntarismo fosse a anima mundi. Não é. E, nesses casos, que é preciso saber distinguir com a segurança com que se separa o trigo do joio,a desistência é uma pura manifestação de lucideze de coragem. Porque é preciso coragem para abdicar de um sonho que se confundiu com a relidade possível, embora difícil de atingir, tal como é preciso lucidez para perceber e assumirque o impossível não é convertível em realidade pelo mero efeito da perseverança. Às vezes a nossa vida converte-se num viver de Sísifo, com o trabalho inútil e esforço anulado pela prevalência das adversidades que empurrámos até ao limite, mas voltam a tombar sobre nós e a impor a sua força, a sua presença, a sua predominância. Ad augusta per angusta é aceitável, mas ad angusta ad aeternum? AmAtA PS (em tempo): mas não quero desistir. Só se e quando não houver mais caminho. --------