Leituras Em regra, gosto
Leituras
Em regra, gosto muito de ler o Zé Mário, mas acho que desta vez há um texto ainda mais merecedor de atenção do que o costume. A propósito da sua satisfação pela forma simpática, calorosa e generosa como algumas pessoas se relacionam com as outras ( sublinhando ele - e eu posso confirmar por experiência própria, thank God for that! - que, na blogosfera, isso sucede com frequência porque a empatia é mais fácil, dado que já há comunhão de interesses quando as pessoas interagem), ele estabelece uma dicotomia curiosa: as pessoas de esquerda seriam as que têm esperança na humanidade, na bondade natural da espécie, enquanto que a direita seria descrente, céptica e desconfiada em relação a essa matéria.
Ora bem, confesso que não é assim que vejo as coisas: sempre me pareceu que ser de esquerda ou de direita tem sobretudo a ver com o modo como se perspectiva a organização económica e social, ou seja, tem sobretudo como ponto de partida a velha questão da propriedade dos meios de produção ou, pelo menos, do modelo de redistribuição dos rendimentos a adoptar pelos cidadãos. Em suma, é-se de esquerdaquando se valoriza mais a vertente social do que a individual, quando se subordina efectivamente o poder económico a uma gestão mais justa e igualitária do ponto de vista social, tal como se é de direita quando se dá maior importância ao carácter absoluto do direito de propriedade privada, se valoriza acima de tudo a iniciativa individual e as realizações empresariais e se pretende diminuir o papel do Estado ao mínimo possível em matéria económica. Quanto ao resto, caro Zé Mário, acho que em qualquer dos lados pode haver arreigado cepticismo e pessimismo mais ou menos alardeado quanto à natureza humana, do mesmo modo que pode existir esperança na capacidade de superação da humanidade. De resto, uma coisa são as pessoas (cada uma delas, as que vamos tendo o prazer de conhecer, as que vamos apreciando mesmo sem as 3D), outra a multidão, a humanidade, onde há, em lotes que creio bem equivalentes, generosidade e hipocrisia, inteligência e estupidez, sabedoria e estultícia, enfim, de tudo o bastante.
AmAtA
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Publicado em 2 de Junho de 2003