reflexões a propósito da blogosfera
reflexões a propósito da blogosfera (I)
(na sequência da proposta do Abrupto)
Vale a pena reflectir sobre a blogosfera como exercício independente de reflectir na blogosfera? É difícil fazê-lo nesses termos: como se pode analisar uma coisa a partir do seu interior e ter, ainda assim, objectividade? Talvez em termos de método científico se afigure complicado, mas a verdade é que se trata de um desafio interessante; no entanto, e do meu ponto de vista, quem aderiu a este meio comunicacional e procura reflectir sobre a sua natureza intrínseca, por um lado, e a sua posição relativa face a outros media, por outro, tenderá a fazer esse exercício, não como independente do seu "estatuto", mas de forma complementar, quase diria testemunhal.
Se é verdade que a incerteza está sempre presente quando alguém observa (como seria o mesmo fenómeno sem essa observação?), a subjectividade cresce num domínio em que o agente da reflexão é também actor do próprio processo.
Salvaguardadas as (eventuais) decorrências destes considerandos, algumas ideias muito breves sobre "a coisa para mim" (já que da "coisa em si" prefiro que fale quem seja detentor de outro olhar, exterior ao meio -um especialista em ciências da comunicação, ou um sociólogo da comunicação, por exemplo):
1. a blogosfera proporciona a acentuação de uma atitude participativa, porque não se exige aos seus agentes que tenham qualquer estatuto social, profissional, ou outro, bastando não ser info-excluído para aceder ao meio;
2. não há critérios editoriais que vinculem o conteúdo dos posts, a não ser que derivem de uma opção auto-regulatória;
3. o tempo de permanência na blogosfera vai ser decidido de dois modos diversos: quanto aos blogues individuais e verdadeiramente independentes (ou seja, nascidos apenas da vontade comunicacional do seu titular e aproveitando o grau mais amplo de liberdade de expressão), sóo cansaço do modelo ou a falta de tempo radical serão decisivos para o abandono, uma vez que cada interveniente é inteiramente livre de dimensionar (quer quanto à frequência, quer quanto à dimensão quantitativa, digamos) a sua intervenção; já os blogues colectivos estarão mais sujeitos a rupturas e "morte súbita", decorrentes das dificuldades de ajustamento e convivência dos diversos elementos;
4. do ponto de visto da qualidade e do interesse de cada blogue, é pouco natural que haja, no curto prazo, qualquer "selecção natural", uma vez que o meio é completamente independente de qualquer adesão externa, para além da eventual convicção de inutilidade sentida pelo autor de um blogue pouco ou nada lido (mas mesmo isso só é válido quando há contador instalado), pelo que o auto-comprazimento pode ser motor suficiente para a mais absurda das continuidades bloguísticas.
I' ll be back to the subject.
AmAtA
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Publicado em 13 de Junho de 2003