Ritsos Descobrir um poeta maior
Ritsos
Descobrir um poeta maior é uma alegria que, no caso de Ritsos, não veio só. Foi uma celebração, a chegada subtil destes belíssimos versos de um poeta cuja pequena fotografia(um homem moreno, mediterrânico e sorridente, com uma cigarrilha presa nos dentes e uma expressão amável) me era já quase familiar, na capa de um livro nunca aberto por rigorosa escolha dos tempos,à espera de um momento particular num dia de sol em que alguma palavra, mesmo (ou ainda) não dita, fizesse merecer aquelas.
Editada pela Fora do Texto, a Antologia de Giánnis Ritsos (1909-1990) é um trabalho de C. Magueijo (prefácio, selecção e tradução).
Rebaptismo
Palavras pobres são baptizadas em amargor e pranto,
ganham asas e voam - são pássaros e cantam,
Mas essa palavra clandestina - a palavra liberdade,
em lugar de asas ganha espadas e corta os ventos.
Testamento
Disse: Creio na poesia, no amor, na morte,
e por isso mesmo creio na imortalidade. Escrevo um verso,
escrevo o mundo; existo; existe o mundo.
Da ponta do meu dedo mínimo corre um rio.
O céu é sete vezes azul. Esta pureza
é de novo a primeira verdade, a minha última vontade.
AmAtA
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Publicado em 7 de Junho de 2003