Explicação virtuosa (ou da necessária
Explicação virtuosa
(ou da necessária evasão)
Justificar pode ser explicar. Explicar é sempre explicar-se. Discorrer sobre isso também. A evasão pode, aos olhos do carcereiro, parecer uma traição, ou, no mínimo, uma negação da ordem por ele imposta. E nada disso é perverso, doentio, inútil ou descabido. É só humano, como todas as buscas, todos os passos de avanço, todos os momentos de recuo, todas as dúvidas, fraquezas e enganos. Se não, era como canta o Rui Reininho: mais vale nunca mais crescer. Porque é disso que se trata na vida, mais do que só adquirir referências sem consistência moral própria: trata-se de conseguir ser adulto, autónomo, responsável, sem ser escravo de práticas descompensadoras mas securizantes como são todas as rotinas, mesmo o som do rodar da chave na porta da cela todas as noites. É saber ser independente, buscar a razão de ser no fundo de si mesmo, sabendo que se sofre nessa procura, mas que só assim se encontra quem se é. Torna-te quem és, aconselha o modus. E o exemplo começa em casa.
Ana Roque
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Publicado em 13 de Julho de 2003