Contra a dissolução (A propósito
Contra a dissolução
(A propósito de um interessante post do Abrupto: "Palavras da “Ignota” , “Lúcia” em Come Tu Mi Vuoi , peça escrita em 1929, por Luigi Pirandello:
"Sono qua, sono tua; in me non c'è nulla, più nulla, di mio: fammi tu, come tu mi vuoi. Eccomi di nuovo a te, non per me più, non per ciò che quella può aver vissuto ... nessun ricordo più: dammi i tuoi ... Questi ridiventeranno vivi in me, vivi di quell'amore che lei ti diede."
"Io sì, sono Cia, non quella che fu, quella che sono io oggi, domani ... Essere? Essere è niente! essere è farsi.")
O texto, claro e fortíssimo, é todo fogo, todo chama, e, nessa medida,arrebatador; mas, para além da beleza e do valor artístico (e é verdade que ele é remetido para a interpretação de "uma grande actriz"), da poiesis evidente de Pirandello, o conteúdo parece-me, ao contrário do que se possa pensar, a negação do amor. É paixão, o que está naquele discurso, é abjuração do eu - o que , sendo claramente um pathos , não se confunde com o terreno lavrado, semeado, cuidado com esforço e persistência próprio da acção amorosa. O amor não é um estado de alma, é uma forma de estar no mundo e com o outro. É uma escolha do modo como se vive, independentemente, ou quase, do que se escolhe, em concreto, no quotidiano, viver. Não é o quê, é o como. E não é certamente uma alienação. Como não nasce de geração espontânea, é exigente, moroso, suado, curtido ao sol e aclarado por muitas luas. É outra coisa.
Ana Roque
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Publicado em 18 de Agosto de 2003