Gosto da efeméride Cumprem-se hoje três meses exactos desde que, acabada de aterrar, corri para casa e, largadas bagagens em lugares menos próprios, iniciei com entusiasmo este blog (e outro, de que me desinteressei entretanto, embora pense reactivá-lo no próximo ano lectivo; on verra...); a mão que embalou o berço da ideia tem estado sempre perto, mesmo invisível em corpo; e, de certo modo, muito do que escrevo lhe pertence, como se só houvesse um único leitor do modus (e, injusta, sei que há mais uns quantos, pelo correio electrónico,a quem agradeço as visitas e as palavras sempre generosas que me enviam amiúde); como se um só olhar decifrasse até ao fundo o que não escrevo, porque não há como falar sobre o abismo; o magister que acompanha todos os movimentos, esperando, impávido, o efeito inevitável da gravitas. Leio blogues que me marcam muito, que me impressionam pela elevadíssima qualidade dos posts (tanto formal como substancial, e tenho referido alguns deles, mas não todos, confesso a falta). Gosto de deixar aqui o registo dos dias que passam, a soma de presentes irreversíveis, de modos de ver que já não se repetem, pequenas dores que se esbatem, alegrias que se consomem na sucessão das coisas comidas pelo tempo. Sei que só passa uma réstea de essência, que o que nos vai fazendo os passos não é transmissível. Ainda assim, fica muito. Lembro-me bem do seu olhar. Ele atravessa ainda a minha alma, Como um risco de fogo na noite. Lembro-me bem do seu olhar. O resto... Sim o resto parece-se apenas com a vida. Álvaro de Campos Ana Roque --------