Saga habitual Todos os anos, antes do recomeço das aulas, existe este momento de provação, que consiste em aguardar a oracular enunciação dos manuais escolares para o ano lectivo seguinte e constatar que não estão disponíveis de imediato; desta vez, verdadeiramente distinguida pelos deuses com a rara delícia da permanência em casa durante a maior parte de Agosto, antecipei-me e obtive os livros que vão dourar o 12º ano de um adolescente em final de secundário. O peso (em euros e em átomos) foi pouco agradável, mas acabei contemplada com um prémio de consolação inesperado: naquela livraria onde poucas vezes vou, estava, acabado de chegar, um exemplar isolado de Pentesileia, de H. von Kleist (1777-1811),traduzida por Rafael Gomes Filipe, ed. Biblioteca Sudoeste. Enquanto destilava com convicção, no meio da calma, li esta peça avassaladora. Deixo uma fala quase final da protagonista: Pentesileia - Pois eu desço agora no meu coração, como se ele fosse o poço de uma mina, e dele extraio, frio como o metal, o sentimento que me vai aniquilar. Este metal, purifico-o ao fogo do infortúnio, até obter um duro aço; mergulho-o, depois, até que fique bem ensopado, no veneno corrosivo do remorso; coloco-o sobre a bigorna indestrutível da esperança, e aguço-o e afio-o, até obter um punhal - e a este punhal ofereço agora o meu peito.(...)Agora, está bem. A decisão trágica é uma força pletórica. Vale a pena ler. Ana Roque --------