Curiosidade Quando escrevi o
Curiosidade
Quando escrevi o post Fading away, recebi uma vintena de mails sobre o fim do modus; respondi a cada um individualmente, agradecendo a amabilidade das palavras que me enviaram. Com o apelo da Bomba, houve um surto de correio (mais do triplo do que tinha recebido inicialmente) a que não posso, por razões práticas, responder da mesma forma; contudo, entendo dever uma explicação a quem se interessou pelos meus motivos e me fez saber o quanto algumas das minhas reflexões foram apreciadas por quem as leu (como nunca tive contador de visitas, nada sei sobre o volume de "passantes" por aqui, ao longo destes quatro meses).
Respondendo à pergunta mais constante: se gosto de escrever, se os assuntos que abordava me interessavam (e a outros...), porquê pôr o tal "ponto final"?
A questão prende-se com a liberdade de expressão: sendo muitos dos meus posts (a maioria, creio) sobre estados de alma, sentimentos, modus de vida, valores, princípios, facilmente se pode considerar este espaço como um blog com marca "autobiográfica"; ora a nossa vida nunca é só nossa, a não ser que sejamos eremitas, o que não é, de todo, o meu caso. Por isso, a minha expressão acabava por ser censurada, na medida em que podia (?) devassar outras vidas, deixar adivinhar outras vivências conexas, mesmo que remotamente; e avaliar tudo isso, evitar essas eventuais e ténues sequelas, tornou-se um fardo desgastante e inútil. A autocensura é contrária à minha natureza, porque tenho o hábito antigo de assumir as minhas escolhas e de não me preocupar demasiado com o juízo alheio (muitos anos de vida independente, a par do próprio carácter, alimentam estas coisas...); e a heterocensura é-me insuportável (tive a sorte de ser muito jovem quando a liberdade de expressão se instalou em Portugal, pelo que nunca tive que conviver com a rarefacção desse direito fundamental...e agora é muito tarde para me habituar).
Assim sendo, em vez do desgaste das limitações quotidianas, preferi o silêncio. Sei que sou "radical", que não gosto de settle for less;mas acho que a liberdade ou é plena, ou não existe. Não se doseia nem se pode negociar. Se um dia as condições se alterarem, volto. Obrigada por todas as palavras de apreço.
Ana Roque
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Publicado em 21 de Setembro de 2003