Democracia Em qualquer regime democrático,
Democracia
Em qualquer regime democrático, o pluralismo é a pedra de toque do sistema político, e a relativa amplitude do espectro partidário surge como garantia efectiva da liberdade de escolha dos cidadãos; dito de outro modo, a democracia é um pouco como o mercado: a concorrência,a existência de variedade na oferta, é indissociável da defesa dos interesses do consumidor, porque só assim a diversidade assiste à procura.
O que sucede há algum tempo entre nós é a infeliz (mas certamente não casual...) confluência de factores destrutivos da saúde e do bem estar da sociedade, o enfraquecimento dos mecanismos democráticos e a consequente desmotivação dos cidadãos. Na verdade, o abalo causado pela derrocada da imagem de figuras públicas não é, por si só, capaz de explicar o desagregar em que hoje vive a sociedade portuguesa; mais do que esse choque momentâneo de natureza emocional, é confrangedor observar em continuum o comportamento de figuras que deviam ser de referência, se fossem, como se espera, a expressão de "os melhores entre iguais". O problema é que, não havendo uma elite qualificada no topo das instituições, a nível moral, intelectual e da praxis social e política, os "defeitos" e os erros saiem ampliados, a falta de valores surge com estrondo, a perplexidade instala-se. A quebra sistemática de contenção, de rigor, de sobriedade e de estilo (de "classe", no sentido de distinção) agride a opinião pública, ainda para mais quando essa realidade surge potenciada pela exposição mediática, muitas vezes pouco isenta, quase faminta de "circo" para entreter as audiências esbugalhadas ante a vulgaridade e a falta de princípios de quem, supostamente, deveria ter elevados níveis de exigência pessoal e funcional.
Dito isto, e sendo certo que outras organizações e diversos titulares de importantes cargos públicos têm alimentado o actual estado de "calamidade moral", cabe certamente ao Partido Socialista mudar de liderança, de estratégia e de praxis política, sob pena de nos faltar qualquer alternativa credível em termos políticos, o que é empobrecedor, e de se colar uma irremediável etiqueta de irrelevância a quem devia ser, no mínimo, a força de uma oposição construtiva e o cerne de uma eventual escolha diferenciada dos portugueses em próximas eleições. Assim, não.
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Publicado em 20 de Outubro de 2003