Dia A noite, curta e festivamente tempestuosa, acabou de súbito com o estrondo desmedido de um único trovão. As gaivotas deixam o mar avesso, planam sobre o rio de corrente agitada, e vêm pousar, por breves instantes, nas janelas mais altas, longe das suas paragens habituais, algumas ainda quase brancas, de tão jovens. Há momentos de alegria que rasgam o cinzento do céu. * As Sem-Razões do Amor Eu te amo porque te amo. Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo. Amor é estado de graça e com amor não se paga. Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários. Eu te amo porque não amo bastante ou demais a mim. Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo. Amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor. Carlos Drummond de Andrade --------