Asas precisam-se (para vencer distâncias passageiras) Falavam do tempo, de como o viam, o sentiam na pele: o tempo que falta, que falta sempre, escasso, para o que se quis viver e não se teve (ainda), e o outro, o que sobra, que se quer afastar com um gesto ligeiro da mão, como se sacode um insecto invisível no pó doirado das tardes de sol. Falavam com doçura gentil do tempo e das asas de pássaro que desejavam, para sobrevoar o rio, chegar a outras cidades, geladas a norte, pousar à beira mar em praias ainda mais ocidentais do que as suas, percorrer mercados labirínticos encostados a mesquitas amparadas na voz que chama para a oração. Sabiam o tamanho do mundo, mas não temiam perder-se enquanto os olhos pudessem ver mais longe. Só precisavam das asas. --------