Consolação O dia, longo e
Consolação
O dia, longo e aquático, teimou sem ter sentido, até que a noite o sacudiu e fez entrar no poço sem fundo do passado. O silêncio nem sempre magoa, afinal; às vezes só inquieta, só fustiga ao de leve, sem chegar a doer, embrulhado no veludo cinza das palavras quepodemos trazer de novo como ondas quebradas contra a muralha das horas inventadas. E há quem nos alimente o monstro.
SONETO DA FIDELIDADE
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meus pensamentos
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes
--------
Publicado em 9 de Novembro de 2003