Matéria de gosto (diálogo imaginário num lugar inexistente) - Não há nunca exagero ou generosidade em matéria de gosto, disse. E eu gosto do que escreve, do tom em que o faz, do cepticismo último que, para mim, é um realismo reconfortante na sua dureza quase palpável. - Há um excesso de vida que fica no limiar da morte, como, aliás, a paixão (toda e qualquer). Nos seus textos, sente-se que sabe dessa linha essencial, da vida e da morte, da vertigemdos abismos reais e imaginados, e da encenação que todos fazemos do fim, às vezes sem sabermos sequer o que fazemos, outras prescrutando para lá do insuspeitável. - O alento que a escrita dá, se dá, quando dá, reflecte-se, simétrica, no puro prazer que os seus textos oferecem, voando dentro da noite. - É difícil saber tirar tudo das palavras, deve sorver-se com cuidado e concentração esse destilar alquímico da alma que se eleva das profundezas do corpo. A leitura partilha só um um pouco dessa espiral. --------