Mist (ou glosa a duas vozes, à volta do que o dia deixou ficar) A alquimia perfeita das palavras avulsas, murmurou a sobrevivente no mar revolto dos dias que encharcam a alma. As perturbantes palavras que disse tornaram-se um mistério, excepto para quem tem os olhos habituados à névoa, na superfície aparente, fruto de tanto amor, tanto humor e tanta dor (a benefício de inventário...). O mundo é sempre demasiado povoado, impossível saber que olhos nos tentam retirar da sombra das palavras. Ela gostava desse jogo, do jogo do caos tentando ordenaros dias como quem esvazia o oceano com um dedal, de adivinhar quem trazia uma música distante, nascida no escuro numa cidade diferente, com a natural e contínua volúpia de ver mais, de conhecer melhor, de saber. Cumpriam em diagonal a lei da vida, que ele sabia caótica, dispersa, exultante e miserável, e ela adivinhava em rigorosa e perfeita simetria convergente. Queriam alguma coisa mais do que a matéria. --------