Mote para um dia igual
Mote para um dia igual
Bem que a martírios tu me tens sujeito
devo-te muito e te sou grato, Amor:
com nobre chaga me rasgaste o peito,
e o coração me deste a um tal senhor,
de tão excelso e de tão vivo aspeito,
na terra imagem do divino autor.
Pense quem quer que é ímpio o meu destino,
se morro esp'rança e vivo desatino.
Contenta-me alta empresa;
e quando o fim clamado me escapara,
e em tanto arder minh'alma se gastara,
basta que seja nobremente acesa,
e que eu mais alto ascenda
e do número ignóbil me defenda.
Giordano Bruno (1548-1600), trad. Jorge de Sena, in Rosa do Mundo, ed. Assírio e Alvim.
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Publicado em 7 de Novembro de 2003