Noctem Uma longa e macia improbabilidade ardia-lhe nos olhos como fumo. Do nevoeiro saíam estranhas figuras, estátuas em movimento com frases a escorrer, limos violeta de espanto, estranhas estátuas entre ela e o rio. O som abafado das palavras dele teimava em romper até aos seus poros, entranhava-se na pele, misturava-se com o sono de muitas noites mal dormidas, deitadas entre poemas distantes na miríade de grãos de areia em que se escoa a vida - agora, nu, pensando em ti, homenageando-te com a memória, agora mesmo, cobria o teu corpo de beijos. O dia estava colado à noite sem remissão, sem que nada pudesse salvá-lo, soltá-lo, atirá-lo para fora de lentidão húmida, fria, sufocantemente fria, sem o milagre da luz - se o dia nasceu espantoso foi para ver se sorris. --------