Sofonisba Os dias virados contra a corrente, com a perversidade de uma ampulheta desordenada e louca, desprezando a gravidade, ofensa suprema. O silêncio a cortar-lhe os pulsos invisíveis com o gume de um sorriso incerto. Tantos passos dados no desconhecido de cada manhã, para ir ter à noite de lugar nenhum, as luzes deslizantes no rio à vista. Não é isso que quero, disse num sussurro. Não é o prazer doce e sem razão fora de si, solto da alma, a bordar o corpo. Não é o espelho de pura alegria nos teus olhos, o sorriso nascente onde não há mais do que o gozo de estar vivo. Não é isso, não pode ser só isso, repetiu com desespero brando. Quero os sentidos como flâmulas do amor, o olhar em volta, iluminado pela lua em todas nas fases na mesma noite última, sobre o mar do norte. Quero o voo das tuas palavras que não chegam nunca, que não me salvam nem me matam, que não escorrem das nuvens sobre o meu corpo em claro à tua espera. Quero o lume aquático da desgraça esmagado a meus pés em glória. Quero (te). --------