Magnólia (ou as reverberações do real) Há já alguns meses, alguém em cujo gosto confio sem reticências aconselhou-me vivamente o filme Magnólia, de Paul Thomas Anderson. Sem meios técnicos para o ver em casa, o tempo passou, até que o carinho de quem prefiro que se ocupe de mim acabou por me proporcionar a visão da tal obra surpreendente.Curiosamente, não me foi um filme agradável de ver, incomodou-me durante quase todo o tempo ( o personagem de Tom Cruise é disgusting, a mulher representada por Julianne Moore angustia, o desespero transmitido por Melinda Dillon é arrepiante); mas torna-se um filme redentor, com os últimos dez ou quinze minutos tocando uma questão essencial (que, em tempos, ocasionou alguns posts muito interessantes da Charlotte, e pena foi não ter prosseguido nesse filão, com a sua inteligência rápida e desarmante): como fazer o bem? Como, a quem perdoar e o que perdoar? Como escolher o que deve ser esquecido e distinguir o que deve ser punido? Em suma, quando e em que circunstâncias praticar a compaixão, lavar a alma dos outros com um gesto, um olhar, uma palavra? É esplêndida a forma simples e monológica como a personagem escolhida para tornar audíveis estas questões (um polícia disponível para o verdadeiro amor, incondicionale transcendente) as coloca na solidão do seu percurso onde as 24 horas do dia não permitem desligar do dever (moral). Há um livro que, do lado da culpa, pode completar este filme: THe good apprentice, de Iris Murdoch, Penguin Books. Não temos a menor desculpa para dull moments. --------