Presente ausente (na aparência) Eras o primeiro dia inteiro e puro Banhando os horizontes de louvor. Eras o espírito a falar em cada linha Eras a madrugada em flor Entre a brisa marinha. Eras uma vela bebendo o vento dos espaços Eras o gesto luminoso de dois braços Abertos sem limite. Eras a pureza e a força do mar Eras o conhecimento pelo amor. Sonho e presença Duma vida florindo Possuída e suspensa. Eras a medida suprema, o cânon eterno Erguido, puro perfeito e harmonioso No coração da vida e para além da vida No coração dos ritmos secretos. Sophia de Mello Breyner Andresen, in 366 poemas que falam de amor, antologia org. por Vasco Graça Moura, ed. Quetzal, 2003. --------