Reconhecimento Uma das novidades simpáticas na imprensa portuguesa foi o início recente da edição semanal da Grande Reportagem, vendida em conjunto com o Diário de Notícias. Sob a direcção seguríssima de Francisco José Viegas e um lote muito apelativo de colaboradores, veio enriquecer a informação escrita disponível, aliando a qualidade à distribuição mais alargada. No último número, de sábado passado (27), há dois artigos de espírito antagónico acerca da iminente mudança de ano: Pedro Mexia dá largas ao seu pessimismo blasé e previsível; Paula Moura Pinheiro escreve um textolúcido e responsabilizador, forte e positivo. É bom ler os dois e ver as diferenças óbvias de conteúdo, de perspectiva, de riqueza interior. A propósito do último parágrafo do texto de Paula Moura Pinheiro, relembrei o que alguém, que tem mostrado ser um amigo sincero e constante, costuma dizer (com inteira razão, aliás), a propósito do capricho que é amuar com a vida (ou com "parte" dela), desaproveitar o que se tem à conta de idealizações improdutivas, ser mimado ao ponto de nunca se contentar com a realidade: "A depressão é o luxo da abundância. Dêmos graças por tudo aquilo de que gozamos. E comprometamo-nos ao nosso melhor." Claro que a depressão de aqui se fala, como o resto do artigo bem deixa perceber, nada tem a ver com situações de perda e desgosto reais ou com disfunções clinicamente tratáveis: o que está em causa é o comprazimento no inatingido em detrimento da satisfação pelo conquistado, é a perpétua tendência para o culto do miserabilismo, individual e colectivo, emocional e social, que só consome energias e nada cria de bom para ninguém. Vale a pena o esforço de tentar mudar. --------