Curioso Não tendo contador, ignoro
Curioso
Não tendo contador, ignoro até hoje a quantidade exacta de visitas ao modus; no entanto, de forma indirecta, reparo que certos temas trazem uma pequena "avalanche" de correio, o qualaproveito para, genuinamente, agradecer. Em muitos casos, são palavras generosas de apreço, algumas reflexões pessoais (até no sentido de biográficas) a partir de poemas citados ou de comentários meus. Às vezes, há perguntas e reparos, a que quase sempre respondo pela mesma via. Contudo, e a propósito de Don Giovanni, prefiro deixar aqui as palavras enviadas por Luís Serpa:
Estou de acordo com todos os seus argumentos sobre a misoginia do Don Giovanni, excepto o úlltimo. A separação total de sexo e do afecto não é necessariamente lesiva, e não é necessariamente lesiva só para as mulheres: também pode ser um acto de soberania, exercido por uma mulher contra um homem, e pode ser um acto de soberania aceite pela "vítima" designada ( que deixa então de ser vítima, claro).
O Don Giovanni remete para um verso de um autor cujo nome,infelizmente, esqueci, e que fala da "difícil simetria do desejo" (neste caso, do afecto, se preferir): e essa assimetria pode ser usada, como de resto praticamente tudo na esfera do humano, para subjugar ou para transcender. As "vítimas" de Don Giovanni esperavam mais dele do que
aquilo que ele queria, ou podia, dar? É verdade. Mas a realidade e a literaturaestãocheias de casos contrários.(Luis M. Serpa)
Gosto muito da frase acerca da assimetria, mas não é do desejo que falava: é mesmo do afecto (o desejo pode ser idêntico e recíproco, mas o afecto estar "desnivelado" , e muito - e é essa a questão que coloco quando falo da lesão sofrida pelas seduzidas). Quanto ao facto inegável de poder existir uma androginia idêntica, claro que admito a possibilidade, apenas com base em Terêncio, a respeito da pessoa humana: Homo sum, humani a me nihil alienum puto (Sou um homem, nada do que é humano me é estranho). Por fim, quando há acordo e entendimento claro quanto ao afastamento entre sexo e amor, não há sedução, no sentido de que se falava, pelo que se estará perante um caso puro e simples de mera "liberdade contratual". É outra coisa.
Nota: Oxalá tenha razão plena na sua última frase.
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Publicado em 20 de Janeiro de 2004