Variatur Na edição de hoje da revista Grande Reportagem, distribuída com o DN, Paula Moura Pinheiro aborda um tema difícil, muito manipulado, muitíssimo incómodo: a violência nas relações entre homens e mulheres. PMP escreve bem, é lúcida e inteligente, trata o tema com acerto e intuição. É um assunto que me não deixa indiferente, nem podia. No entanto, há que lembrar sempre um detalhe: a violência não é só física, brutalmente visível, traduzida em modelações que vão do grito à morte. Há outra violência, aparentemente civilizada, "superior", elitista, com base filosófica e tudo: é manipuladora, desertificante, alimenta as expectativas amorosas por motivos puramente egoístas e utilitários, escora-se na diferença para expurgar o conteúdo emocional dos actos que quer puramente físicos, proclama o desafecto através da desconsideração mais ou menos evidente. Não se vê a negro e sangue, mas sente-se bem, num desconsolo salgado e inútil, arrastado por tanto tempo quanto a perda (mesmo "somente" parcial) de auto-estima determinar. É servida fria, muito fria mesmo, às vezes nos cenários mais sofisticados, gelando até à morte a alma do outro. Fugir dessa violência é mais difícil ainda, mas uma questão de sobrevivência. --------