Sentido(s) Há palavras mágicas a que devemos dar um uso muito, muito rigoroso, medido, exacto. E, por isso mesmo, raro. Essas palavras só valem se a escassez da sua formulação significar o sentido profundo que lhes atribuímos. Mais do que quaisquer outras, as palavras que dizem do amor, tão frágeis e voláteis à vista do que designam, perdem todo o sentido se usadas sem critério. Só se diz que se ama quando essa é uma verdade do sangue, que invade os sonhos, dispersa a poeira dos dias, vence a distância fantástica da pele, ignora ventos e marés. Só se diz que se ama quando o amor venceu até a resistência dessa formulação sempre insuficiente, quando essa verdade invisível é tão óbvia e incontornável como o ar que se respira. Amar é sempre, mesmo que apenas de modo implícito, uma jura de fidelidade, um pacto de certa forma inquebrável (de certa forma porque a vida pode fazer converter em imanência o que não permite viver em acto,e apenas nessa medida). Pode-se estimar, gostar, apreciar, e isso, desejavelmente, acontece com alguma frequência e é afirmado sem reservas. Amar é outra coisa. --------