Sempre (Para quem, não estando, está) Desarrezoado amor, dentro em meu peito Tem guerra com a razão, amor que jaz E já de muitos dias, manda e faz Tudo o que quer, a torto e a direito. Não espera razões, tudo é despeito, Tudo soberba e força, faz, desfaz, Sem respeito nenhum, e quando em paz Cuidais que sois, então tudo é desfeito. Doutra parte a razão tempos espia, Espia ocasiões de tarde em tarde, Que ajunta o tempo: enfim vem o seu dia. Então não tem lugar certo onde aguarde Amor; trata traições, que não confia Nem dos seus. Que farei quando tudo arde? Sá de Miranda (1481-1558). --------