Sobre Abril, ainda o tempo
Sobre Abril, ainda o tempo II
(perto e já tão distante)
Foi certamente revolução, durante uns agitados dezoito meses. Trouxe evolução, nos anos seguintes, sobretudo a partir da mudança de 1986, com a adesão comunitária - obviamente, o contrário seria incompreensível. Mas, acima de tudo, Abril foi um golpe de asa na vida de mais do que uma geração.
Canção com lágrimas
Eu canto para ti um mês de giestas
Um mês de morte e crescimento ó meu amigo
Como um cristal partindo-se plangente
No fundo da memória perturbada.
Eu canto para ti um mês onde começa a mágoa
E um coração poisado sobre a tua ausência
Eu canto um mês com lágrimas e sol o grave mês
Em que os mortos amados batem à porta do poema.
Porque tu me disseste: quem me dera em Lisboa
Quem me dera em Maio. Depois morreste
Com Lisboa tão longe ó meu irmão de Maio
Que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro.
Eu canto para ti Lisboa à tua espera
Teu nome escrito com ternura sobre as águas
E o teu retrato em cada rua onde não passas
Trazendo no sorriso a flor do mês de Maio.
Porque tu me disseste: quem me dera em Maio
Porque te vi morrer eu canto para ti
Lisboa e o sol. Lisboa com lágrimas.
Lisboa à tua espera ó meu irmão tão breve.
Eu canto para ti Lisboa à tua espera.
Manuel Alegre
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Publicado em 20 de Abril de 2004