Da certeza maior Quando não estavam juntos, tão próximos que respiravam à vez e lhes bastava, contendo o espaço entre os corpos até ao limite e bebendo com sofreguidão o fio de água que inventavam; quando a distância da vida habitual se impunha entre eles, de tal modo que o olhar passava, pelo corredor da memória constante, para a matéria de que são feitos os sonhos; quando as horas se escoavam e só batiam ao som da voz distante, trazida com clareza ou indistinção pelo meio dos astros (e era a maior parte do tempo, se contado com a sensata exactidão do calendário); quando era assim, a certeza maior de cada um estava fechada, guardada e rigorosa, no sangue do outro. --------