Da esperança (em resposta a A.M.) Alguém que põe grande atenção na leitura do Modus (e que tem a gentileza de me transmitir algumas apreciações, muito interessantes) encontrou, nos posts que coloquei ao longo da semana que findou, uma nota a que chamou de esperança. Não me tinha apercebido desse matiz visível, e, sobretudo, não se tratou de uma conotação consciente e deliberada; mas, em bom rigor, há uma qualquer branda expectativa face à vida, ao que, sem podermos realmente antever, nos pode surpreender, alegrar e ajudar a viver de outra forma, a realizar desejos que, de tão adiados, mais pareciam desaparecidos em combate, num percurso de anos rarefeitos, votado à (vã) tentativa de adaptação a algo que, por livre e espontânea vontade, nunca se teria escolhido como caminho. É verdade que mesmo essa via é sempre uma escolha, mas é muitas vezes "forçada", sobretudo por circunstâncias interiores que dominamos mal e percebemos pior; não é tanto uma opção, mas antes um certo determinismo que obriga a pisar vidros de pés nus, em vez de calçar, sensatamente, botas cardadas. Mas a vida pode ser um caminho cheio de bifurcações, se estivermos cientes de nós, do que queremos, do que podemos. E se aprendermos a resgatar o tempo, não o passado, que foi, mas o presente, que ainda agora era futuro. Basta ter a coragem de apostar no que se acredita, sabendo que o amor não é um passatempo, uma ocupação agradável e gratificante fruída em part time bem disciplinado, mas uma verdade existencial total, transparente, sem horários convenientes nem little boxes onde arrumar sem incómodo. --------