On the other hand (na
On the other hand
(na ausência do nome)
A esperança no ouro encoberto sob a penumbra do que não se escolheu nem queria, que tomou anos de vida à revelia da vontade. Só ter as mãos nuas para o procurar e tentar resgatar da terra ardente. A certeza dos dias cada vez mais curtos, a luz sedenta e breve, quase relâmpago a afastar ainda a noite iminente. O medo, sim, a faca longa e fria do medo a trespassar vezes sem conta o fantasma da perpétua distância, inelutável sentença sem recurso. A força da gravidade obrigando a ficar, vencendo no último limite da coragem a tentação de partir, de ser ainda de outro modo. Sonhar em trazer a glória da morte à expectativa inútil, à pequenez sem espaço do presente sempre e só translúcido. A dúvida doendo no limiar incerto de cada madrugada a mais.
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Publicado em 7 de Maio de 2004