Permanências Uma das mais constantes
Permanências
Uma das mais constantes leitoras do Modus é autora de poemas, com livros publicados na sua Pátria, onde se fala um português temperado pelo hemisfério sul. Aqui fica um presente que me ofereceu, para partilhar.
Impertinência
sei de tantos descaminhos
desolhares, desistências;
sei como é estar sozinho
sem nenhuma indulgência,
sem nunca pedir clemência.
sei de mim: um ser marinho,
perdido a meio caminho
do deserto, na iminência
de esquecer o mar, vizinho
de abismo e insolvência.
mas não será desse espinho
que hei de morrer. paciência.
a tal vil redemoinho,
ofereço a impertinência
de quem conhece a ciência
do sobreviver: sem vinho,
herói, quixote ou moinho,
sigo adiante. e de ausência,
cinjo-me, enquanto escrevinho
meus versos de inexistência.
Márcia Maia
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Publicado em 2 de Maio de 2004