Pesadelo (em forma de diálogo
Pesadelo
(em forma de diálogo recorrente)
- Complicas tudo. Dás importância exagerada a coisas insignificantes.
- Não complico. Explico. Explico por que não sei settle for less, por que não quero aprender nunca a perder a esperança, o desejo.
- Isso não importa. Nunca dei importância a isso. Não sei sequer o que é isso a que chamam "uma relação". Vivo várias vidas em paralelo e todas se equivalem.
- É natural. Não chegas a ver para além de ti mesmo. Se não vês sequer o outro ou, mesmo que o vejas em alguns instantes, é-te de tal forma irrelevante que não sabes nomeá-lo; como poderias perceber o que é considerar alguém em ligação connosco? Uma relação é isso. Não é só pragmatismo, acção, corpo. É muito mais, durante muito mais tempo. É saber a densidade do olhar do outro. É ter-lhe o nome inscrito na alma.
- Hum, hum.
- Exacto.
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Publicado em 12 de Maio de 2004