Retrato Maria Filomena Mónica deu
Retrato
Maria Filomena Mónica deu uma entrevista muito interessante a Anabela Mota Ribeiro (in DNa, 7/5/04). Interessante e curiosa, porque (ao menos para mim), pontuada de declarações inesperadas. MFM é uma intelectual que admiro pela honestidade do trabalho que apresenta, pelo rigor, pela inteligência implacável e tantas vezes duríssima das suas crónicas. É uma mulher muito bonita, muito inteligente, muito culta. Se há elite, no sentido de conjunto de pessoas com uma formação claramente superior à média, com um pensamento sobre o mundo e com capacidade de acesso aos diferentes meios para publicitar esse produto de si e das suas circunstâncias, então, goste-se ou não da pessoa que parece ser, MFM é parte integrante (e até liderante) dessa elite, tão pequena, mesmo proporcionalmente, no Portugal dos dias de hoje.
Mas esta realidade não é a parte curiosa da entrevista: para quem a observa, nos colóquios em que participa, nas crónicas que escreve, MFM parece gélida, um ser entronizado em si mesmo. Afinal, tem a dignidade suprema de expor problemas estruturais, como a difícil relação com a sua mãe, as suas dúvidas, a fragilidade face ao sentimento de culpa. Acima de tudo, é senhora de si, do seu passado, do seu presente. Tive orgulho nela, naquela entrevista, apesar de, não a conhecendo pessoalmente, nem sequer ter simpatia pela pose com que me tinha cruzado. Até ontem.
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Publicado em 9 de Maio de 2004